Nota CNSaúde

Sobre a entrevista do Presidente da Amil, Sr Claudio Lottenberg, ao jornal O Globo de 27 de abril de 2019, a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) tem as seguintes considerações a fazer:

A Confederação nada tem a falar sobre disputas comerciais específicas, apenas reforça que sempre defenderá que nada é mais saudável para todos os atores da saúde do que a livre negociação entre os agentes econômicos e o irrestrito respeito aos contratos firmados, conforme preconizados pela legislação específica da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a fim de proporcionar segurança jurídica as partes.

Salientamos que a CNSaúde sempre apoiou e continuará apoiando mudanças nos modelos de pagamentos negociados livremente entre operadoras e prestadores. Essas mudanças já vem sendo exploradas sempre que são identificadas oportunidades de tornar a assistência à saúde mais alinhada aos interesses dos pacientes/consumidores não só com relação aos custos, mas como forma de estimular ganhos contínuos de qualidade.

No entanto, repudiamos a infeliz associação sugerida na entrevista entre o uso do modelo de fee-for service a “práticas questionáveis”. Vale lembrar que esse modelo de pagamento ainda é o mais usado em todo país e fora dele e, nesse sentido, a associação feita na entrevista coloca todos os hospitais, clínicas de diagnóstico e mesmo médicos, como malfeitores de um mercado ao qual se dedicam com tanta paixão e comprometimento. Inclusive, a Amil, em seus próprios hospitais, continua praticando majoritariamente o fee for service com as outras operadoras.

Além disso, ao condicionar de maneira impositiva a manutenção do credenciamento de hospitais à mudança de modelos de pagamento o presidente da Amil subverteu a lógica desse processo de mudança de várias formas. Em primeiro lugar atropelou um processo que vem caminhando a partir de negociações individuais entre operadoras e prestadores em todo o país. O próprio presidente admite isso ao dizer que hoje a empresa já paga mais de 30% das despesas assistenciais em modelos diferentes do fee-for-service.

Em segundo lugar a ameaça da Amil contra todos os hospitais manifestada na entrevista de seu presidente, colocou o consumidor, que compra tradicionalmente planos de saúde com base na rede credenciada, como a principal vítima das brigas comerciais que, ao que parece, a empresa pretende comprar daqui pra frente. Além disso, coloca em risco a credibilidade e confiança que os usuários de planos de saúde depositam na rede credenciada.

​A CNSaúde reafirma o seu papel de​ ser uma ponte de interlocução entre as operadoras de saúde e os prestadores de serviço. Um sistema construído ao longo de 40 anos não se transformará com radicalismo.