Aumentos de preços de serviços de saúde acima da inflação são fenômenos mundiais reconhecidos. Ainda assim, chama a atenção no Brasil a aceleração dos preços ao ritmo de 13% ao ano nos últimos três anos. Entre os motivos recorrentemente invocados para justificar esses aumentos estão a incorporação de novas tecnologias, o envelhecimento da população e os ditos desperdícios ao longo da cadeia. As soluções debatidas para conter esses custos geralmente apontam para mudanças no modelo de pagamento, processos de incorporação tecnológica mais racionais e, ultimamente, a adoção das franquias. Em que pese o impacto que possam ter essas medidas, um fator ainda mais importante tem sido negligenciado nesse debate: a gestão da assistência.
Estudo realizado pela Unimed Belo Horizonte dá uma amostra dos ganhos que a gestão pode propiciar. Dados analisados pela operadora mostraram que ela gastou US$ 35 milhões para tratar 447 pacientes de câncer em estágios avançados e que poderia ter gasto apenas US$ 5 milhões de dólares, caso tivesse detectado a doença em estágios mais precoces. Outro estudo recente, com dados do SUS, revelou que os tratamentos iniciados no estágio 3 em casos de câncer no reto, no cólon e na mama custam 20, 18 e 6 vezes mais, respectivamente, do que custariam caso tivessem sido iniciados no estágio 1.
Esses ganhos podem ser potencializados se, com a utilização do big data, forem identificados os grupos de pacientes com maior risco de contrair a doença. Aliado a uma boa comunicação, o maior conhecimento dos hábitos e condições de saúde da população atendida encerra um potencial enorme para melhorar a sua qualidade de vida e economizar recursos do sistema.
Estratégias bem implementadas que permitam a ampliação do acesso de beneficiários a redes de atenção primária também estão no campo da gestão e têm grande potencial de desinflacionar custos. Equipes de saúde generalistas competentes com acesso a infraestruturas simples são capazes de resolver 85% dos problemas de saúde das pessoas a um custo bem mais razoável, segundo especialistas. Integre-se esse cuidado da saúde primária aos cuidados especializados através de processos de trabalho bem desenhados e do uso de sistemas de informação e teremos serviços de saúde ainda mais eficientes.
Estudo americano publicado pelo “The New England Journal of Medicine” mostrou que, enquanto 11,3% dos pacientes fizeram uso exagerado dos recursos de saúde disponíveis, 46,3% não receberam todo o tratamento recomendado. O fato é que não tratar ou tratar de maneira incompleta as pessoas custa muito caro também e contribui de forma significativa para acelerar a variação dos custos médico-hospitalares (VCMH). Esses custos escondidos precisam ser mais bem estudados no Brasil, se quisermos entender com real profundidade por que nossa saúde privada fica cada vez mais cara.
* Bruno Sobral é consultor econômico da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) e da Federação Brasileira de Hospitais (FBH)